sábado, 29 de outubro de 2011

O livro:
A lenda de Mão Branca surgiu nas disputas pelo controle de contrabando em Chicago no EUA nos anos 1920. Era o grupo de extermínio dos dedo-duros ou traidores. No final dos anos 60, na baixada fluminense, surgiu novamente Mão Branca, agora um grupo de extermínio que eliminava criminosos e infratores.
Nos anos 70 houve um boato que o Mão Branca viria para o Goiás. Dezenas de infratores se entregaram nas delegacias com medo da lenda.
A idéia de uma pessoa ou um grupo que tome o lugar do Estado (Brasil) nas ações de proteção que estão sem segurança é antiga, e, vê-se hoje, até comum. Certamente não é a forma mais correta, contudo é a única maneira de se fazer valer alguns direitos que não são respeitados pelos poderes constituídos.
Mão Branca (FAC / LGE, 2009) é um justiceiro anarquista que seque os próprios conceitos em benefício da comunidade. Tem um rígido código moral, embora seus valores sejam diferentes daqueles defendidos pelas leis. É a atitude rebelde, é a defesa dos interesses.
As histórias de Mão Branca suscitam a discussão a respeito dos valores sociais, dos atos repressivos, das leis antigas e dos conceitos abstratos de justiça e verdade.
As histórias apresentadas no livro de contos são sempre motivadas por alguma notícia de jornal em que há algum crime absurdo, seja por sua violência ou pela sua gratuidade. Os atos que levam o criminoso a cometer a injúria e, consequentemente, a maneira como o justiceiro Mão Branca irá cumprir a vingança é a escada para alcançar o melhor padrão para discutir conceitos jurídicos e sociais que não mais pertencem ao senso comum, porém ainda existem na ordenação legal.
Os atos do personagem são sempre violentos e regados a situações incorretas, porém as convicções e as visões são consideradas justas. A ambigüidade é o que torna a situação tão interessante, pois o leitor acaba torcendo para um “matador de aluguel” que usa tóxicos e despreza terminantemente qualquer tipo de violência sexual tanto quanto odeia corruptos. É atraente sem deixar de ser questionador.
A publicação de um livro com os contos do MB que já circulam na interNerd há alguns anos é o auge do ciclo de histórias que discutem e analisam política, criminalidade, justiça e ação da polícia e de bandidos na sociedade multi-cultural e inter-disciplinar em que convivemos e, dos quais, curiosamente nos mantemos distantes. A percepção de alguém que luta com suas próprias armas para transformar o meio que o cerca em algo melhor para se viver é enaltecedor, contudo, este guerreiro usa armas e tem conceitos que assustam tanto a vítima (que sempre está fora de ordem) quanto o contratante (que deve ser sempre alguém injustiçado). Seria ele legítimo para fazer o que faz ou é apenas mais um bandido com ilusões de Zorro?
A intenção precípua das Histórias de Mão Branca é elevar a abrangência das discussões e das formas de pensamento a respeito das atitudes dos cidadãos e das autoridades responsáveis pelo poder.
O público do livro, que vai do universitário ao juiz de direito, é o adulto que lê jornais e busca informações na internet. É a oportunidade de trazer para o mundo real as divagações de um anti- herói rebelde porém nobre.
As Histórias de Mão Branca acontecem sempre ao redor de Brasília, mostrando alguns de seus ambientes mais esquecidos e obscuros, como os locais em que são desovados cadáveres em Sobradinho ou na “terra-sem-lei” perto de Planaltina. O linguajar apresentado é predominantemente candango e os casos em que o personagem se mete são todos baseados em crimes ocorridos no DF.
A resolução das situações de maneira ágil e definitiva reflete o desejo dos brasilienses em ver a baderna que se tornou a segurança pública sendo controlada por alguém sem medo de errar ou de perder o cargo político. Alguém que quer fazer a coisa certa.


 O Autor:
Giovani Iemini é escritor, motoqueiro, cachaceiro, peladeiro, leitor voraz, cactólogo, historiador, gibizeiro, roqueiro, (ex) cabeludo, músico (frustrado), enxadrista, pintor, marido e conhecido nas redondezas como o amigão de todas as horas. É formado em História pela Unb, cursou Engenharia Florestal e Direito. Trabalhou como professor, vendedor, bancário e servidor público.
Escreve para quase todos os sites da interNerd.
Organiza o Bar do Escritor www.bardoescritor.net , uma comunidade de escritores no Orkut, com mais de 2850 membros, que troca experiências em Literatura. O Bar do Escritor lançará sua primeira antologia em maio de 2009.
Giovani foi publicado na coletânea Todas as Gerações – o conto brasiliense contemporâneo, de 2006, organizado por Ronaldo Cagiano; na revista anual da Academia Cachoeirense de Letras de 2005 e 2007, na antologia  poética Valdeck Almeida de Jesus de 2008. Publicou os livretos Zine Bar do Escritor e Casos de Mão Branca em 2007 e os livros antologia Bar do Escritor de 2009.
http://www.maobranca.bardoescritor.net/                        maobranca@gmail.com

contracapa:
por Sérgio de Sá

Preparado para encarar o veneno? No mundo cão de Giovani Iemini, a mão branca do narrador não perdoa, mata. Vingativo, implacável. Palavra encadeada como antídoto contra as mazelas de uma sociedade assustadoramente desigual. Este livro faz um painel nada gentil de uma ilha da fantasia transformada em retângulo representativo da tragédia brasileira. Se você ainda tem esperança, perca a inocência de vez. A literatura é feita de sangue, armada por uma voz simples apenas na aparência. A mão, sempre motorizada, oferece justiça. Perambula por cidades de danação. E o leitor dispara rumo a um universo onde os inocentes não têm vez, lugar mais perto do que podemos imaginar. E aí, vai encarar?

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