quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Capitão Falcão e Puto Perdiz! Dupla dinamica lusitana.

Descobre mais sobre o «Capitão Falcão», o super-herói português que se tornou viral (com entrevista ao criador, João Leitão)
Publicado por Jorge Pereira
Terça, 13 Setembro 2011 12:57
 
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Quando o episódio piloto de «Capitão Falcão» foi exibido no MOTELx, o público do fantástico nacional ficou boquiaberto: um super-herói do Estado Novo enfrentava um grupo de feroz de comunistas liderados por uma múmia armada de foice e martelo, num delírio visual que trouxe o Cinema São Jorge abaixo.
 
Uma semana depois, já 16.000 pessoas viram o trailer no Youtube e 2.800 são amigas deste “Capitão Portugal”. A produtora Individeos procura agora um canal de televisão que nos queira dar o resto das aventuras que João Leitão (da série «Um Mundo Catita») e a sua equipa prepararam para Capitão Falcão e o seu “side-kick” Puto Perdiz.
 
Protagonizada por Gonçalo Waddington, no papel do dito Capitão, e com David Chan Cordeiro (responsável também pela coordenação do trabalho de duplos), no papel do seu parceiro Puto Perdiz, esta produção é apresentada como uma recuperação de uma série produzida no Estado Novo e que tinha estreia marcada para 26 de Abril de 1974, tendo sido prontamente cancelada após a Revolução dos Cravos.
 
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Uma sátira delirante à paranóia anti-comunista nos tempos da ditadura fascista, a série segue as aventuras do “famoso super-herói lusitano”, o ultra-patriótico Capitão Falcão,  um homem que segue as ordens directas de António de Oliveira Salazar na luta contra a “ameaça vermelha”. A nível visual, “Capitão Falcão” apresenta-se no mesmo registo do clássico “Green Hornet”, com a “falta de qualidade” da imagem a completar o piscar de olho nostálgico. 

O c7nema falou com João Leitão uma semana depois do «Capitão Falcão» se ter tornado viral.
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 « Não me vou meter em debates políticos, mas fico contente que uma comédia desperte tantas discussões. »
 

De onde veio a ideia de criar um super-herói lusitano, nacionalista e com um contexto de época?
 
A ideia inicial foi criar um super-herói português nos anos 60. Esse foi o ponto de partida. Gostava de conseguir explicar melhor o processo de criação, mas a verdade é que poucos segundos depois desse primeiro momento pensei logo: “E se ele estivesse ao serviço do Estado Novo?”.
 

As primeiras imagens têm uma linguagem muito especial, com uma edição rápida e cortes muito fortes. Quais foram as referências estéticas do ‘Capitão’? 
 
Provavelmente demasiadas coisas ao mesmo tempo, mas principalmente a série original do Batman e do Green Hornet, assim como vários filmes da Shaw Brothers. No que toca a referências mais recentes, definitivamente o Garth Marenghi’s Darkplace, Italian Spiderman e também de certo modo os filmes franceses do OSS 117.
 

Esperavas que o ‘Capitão Falcão’ se tornasse um vídeo viral no rescaldo do MOTELx?
 
Sinceramente, sim. Sempre achei que isto era o género de coisa que se me aparecesse à frente, mostrava logo a todos os meus amigos. Era mais uma questão das pessoas acharem piada ou não. Fico muito contente por não ser o único a achar isto engraçado.
 
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Gonçalo Waddington é uma curiosa e surpreendente escolha para ser um super-heroí. Como surgiu a escolha do protagonista?
 
Há quase 2 anos vi-o em palco no S. Luiz na peça “O que se leva desta vida”, juntamente com o Tiago Rodrigues. Mal saí da sala sabia que tinha de convencer os dois a entrar no Capitão Falcão. Não só estavam incríveis na peça como actores, mas o texto (que adoro) também era deles. 
 

Tens receio que o conceito de um herói salazarista que combate comunistas possa ser aproveitado politicamente?
 
Ele só combate comunistas no primeiro episódio. Mas sim, tenho um bocado, especialmente por existirem pessoas demasiado estúpidas para perceber que é uma paródia ao Estado Novo. E elas existem... são poucas, mas existem.
 
Mas para ser sincero, assustava-me mais se a reacção a isto tudo tivesse sido apática. Não me vou meter em debates políticos, mas fico contente que uma comédia desperte tantas discussões.  É suposto.
 

Que podemos esperar a série completa, caso ela venha a acontecer?
 
Tenho uma proposta de duas séries de 12 episódios cada uma. Duas séries com as mesmas personagens mas com conceitos completamente diferentes.
A primeira época seria algo na direcção da série do Batman e do Green Hornet, e (ao contrário do que muita gente assume) nem todos os vilões seriam “políticos”. Existe todo um universo variado de personagens na banda desenhada e no cinema fantástico para explorar... e isso aliado à paródia do Estado Novo e da sociedade portuguesa pré-25 de Abril, permite-me fazer muitas coisas inesperadas.
 
Já a segunda época, se fosse feita, seria algo completamente novo. A promessa é nunca contar a mesma piada duas vezes.
 
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É ‘Capitão Falcão’ a evolução natural do trabalho desenvolvido na série ‘Mundo Catita’? Ambas são séries com muito humor, bastante mordaz. Há uma ligação entre os dois mundos? 
 
Nem por isso. São, a todos os níveis, bastante diferentes. O único ponto de ligação talvez seja a minha fixação com o Estado Novo, que no “Mundo Catita” só se sente na cena de abertura do primeiro episódio.
 
Esforcei-me para fazer algo diferente do “Mundo Catita”, recusando inclusivé algumas ofertas para projectos muito parecidos. Adoro o Mundo Catita, mas já o fiz. Espero conseguir sempre não me repetir, especialmente no que toca a comédia. Ninguém gosta de ouvir a mesma piada repetida até ficar dolorosa.
 

Capitão América vs. Capitão Falcão? Quem venceria?
 
O Capitão Falcão é português. Vai conseguir sempre desenrascar-se de alguma maneira.
O Capitão América não tem hipótese.
 

Para além de 'Capitão Falcão', que outros projectos tem a Individeos no forno?
 
Alguns documentários que ainda não anunciamos e algumas curtas-metragens... mas o nosso maior projecto de momento para além do Capitão Falcão é uma longa-metragem de ficção científica que estamos a preparar há quase 3 anos e que esperamos filmar em 2012.
 
É provavelmente o nosso projecto mais ambicioso e arriscado e espero anunciá-lo devidamente daqui a um ano. Só gosto de lançar projectos quando tenho algo filmado. Foi um vício que apanhei no “Mundo Catita”.
 
Posso adiantar que está a ser feito com a colaboração do que é para mim uma das melhores empresas de efeitos especiais do Mundo - a britânica MillenniumFX (www.millenniumfx.co.uk).
 

Consideras tornar 'Capitão Falcão' num filme caso o formato televisivo não se concretize?
Não. A não ser que mude de ideias. Nesse caso, sim.
 
 
 

Entrevista conduzida por José Pedro Lopes


Artigo retirado do site www.c7nema.net

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