sexta-feira, 8 de julho de 2016

Por que uma roteirista da Turma da Mônica está sofrendo ameaças na internet







Ana Freitas 5 Jul 2016 (atualizado 05/Jul 13h55)
Petra Leão, roteirista da Turma da Mônica, está sofrendo ataques de grupos conservadores por frase dita pela personagem
AddThis Sharing Buttons



FOTO: REPRODUÇÃO/TURMA DA MÔNICA JOVEM/MSP
MÔNICA, NOS QUADRINHOS, DEFENDE SEU DIREITO DE ESCOLHER OU NÃO COLOCAR APARELHO DENTÁRIO POR RAZÕES ESTÉTICAS

“Meu corpo, minhas regras! Podem discutir e debater até cansar…”, disse Mônica na edição 94 da revista em quadrinhos Turma da Mônica Jovem (conhecida como TMJ), que retrata aventuras dos personagens clássicos de Maurício de Souza em versão adolescente.

No contexto da história em quadrinhos, a frase de Mônicase opunha à intromissão de seus amigos em uma decisão estética: se ela deveria ou não usar aparelho nos dentes.

O dilema faz referência aos debates sobre a autonomia da mulher sobre o próprio corpo, que estiveram na ordem do dia nos últimos meses em manifestações feministas e na política. Também conversa com uma das principais características da personagem. Mônica, desde as primeiras edições da Turma, é descrita como “dentuça”.

O trecho, no entanto, gerou descontentamento em grupos conservadores. Comentários e correntes de Whatsapp concluíram que Turma da Mônica Jovem “apoia o aborto” e defendiam que crianças devessem ser proibidas de ler os quadrinhos da TMJ.

Além disso, uma das roteiristas da edição 94, a quadrinista Petra Leão, passou a sofrer ataques e ameças nas redes sociais em razão da frase dita por Mônica na revista. As mensagens acusaram a publicação de “doutrinação esquerdista” e pediam a demissão de Petra Leão do quadro de roteiristas da Maurício de Sousa Produções.
‘Turma da Mônica Jovem’ dialoga com universo pop

Publicada pela primeira vez em 2008, as histórias da Turma da Mônica Jovem são mensais e têm como alvo o público pré-adolescente. A linguagem, os traços e os roteiros das histórias são preparados para dialogar com os dilemas, a realidade e o universo desses jovens.

Por isso, são frequentes as referências a temas do debate público digital, como memes, produtos e comportamentos em voga. Os roteiros preparados por Petra Leão são avaliados por três pessoas, entre elas Mauricio de Sousa.

Mesmo assim, os ataques pessoais foram concentrados em Petra. Outro roteirista da Turma da Mônica Jovem, Marcelo Cassaro, fez umpost sobre o caso lembrando que seu nome também estava nos créditos do roteiro da revista, mas que ele não sofreu nenhum ataque. “Tirem suas conclusões sobre a não-existência de machismo no meio nerd, ou sobre a valentia dos agressores”, escreveu.

Diante dos ataques, a página oficial da TMJ publicou otrecho completoem que Mônica discute com seus amigos sobre seu direito de escolher se deve ou não colocar aparelho nos dentes e se posicionou sobre o caso.
“Essa é uma decisão que cabe única e exclusivamente à Mônica. E a sua turma entende, aceita e respeita isso. Porque gosta dela do jeito que ela é. Há mais de 50 anos, as histórias em quadrinhos da Mauricio de Sousa Produções são feitas para divertir e entreter, mas também para levantar discussões saudáveis, sempre com muito respeito a todos.”

Página oficial da Turma da Mônica Jovem

O debate chegou ao site especializado em quadrinhos Terra Zero, que publicou um editorial defendendo a liberdade editorial da revista e da roteirista e a importância de um trabalho que, segundo o site, empodera jovens meninas e meninos.
“O trabalho de Petra é importante para os adolescentes, público-alvo direto da revista. Não apenas para as garotas, que se sentem representadas por personagens femininas fortes e determinadas, mas também para os garotos, que têm a oportunidade de perceber que o mundo machista no qual eles possivelmente foram criados está mudando, rapidamente, e, assim, aprendendo que há como homens e mulheres se relacionarem de modo muito mais saudável.”

Terra Zero

Site especializado em quadrinhos

A página Minas Nerds, um dos maiores canais de conteúdo sobre cultura pop com recorte de gênero, destacou que o trabalho da revista reforça valores positivos, incentiva a autoestima de adolescentes e dá aos adolescentes modelos valiosos sobre como reagir em casos de bullying e abuso.

Em março deste ano, em comemoração ao Dia da Mulher, a Turma da Mônica lançou o projeto Donas da Rua, um site colaborativo em que leitoras e fãs dos quadrinhos da Turma podem enviar relatos em texto ou vídeo sobre situações em que se sentiram empoderadas.




Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/07/05/Por-que-uma-roteirista-da-Turma-da-M%C3%B4nica-est%C3%A1-sofrendo-amea%C3%A7as-na-internet

Nenhum comentário:

Postar um comentário